terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Águia e a galinha

Do alto se ver melhor
Uma metáfora da condição humana
Leonardo Boff 

Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. 
Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão. 
- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar ás alturas. - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: 
- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! 
- Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. 
E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. 
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: 
- Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! 
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. 
O camponês sorriu e voltou à carga: 
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha! 
- Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar. 
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: 
- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! 
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. 
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre se mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento... 

E Aggrey terminou conclamando: 

- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

Fonte: BOFF, Leonardo, O Despertar da Águia, 2004, Petrópolis, RJ, Editora Vozes
Beijo da tia Sara

Vida Plena!!!!!!


Por Thiago Azevedo

Ontem numa festa de aniversário de um amigo, refletimos sobre o que significava ter vida abundante, baseada em João 10.10. Percorremos os conceitos e preceitos teológicos sobre e vislumbramos que este teor de plenitude requer de nós voltar ao sermão da montanha, onde, os mais simples fazem parte do reino de Deus, que este, se baseia na simplicidade com que levamos a vida. Tanto é verdade, que Jesus em sua caminhada, incitava seus discípulos a se tornarem como crianças.

No mundo complexo em que vivemos, de relações conturbadas, cheias dos eus que invadem e atormentam o amor nutrido um pelo outro, ser simples é deveras complicado, o que faz disso um imenso paradoxo. O mundo se torna paradoxal, à medida que um simples pôr-do-sol se torna um incômodo para o sentimento de “produtividade”, já que dá a idéia de que o dia está acabando.

Todos buscam uma vida mais plena, mais abundante, porém, ainda não sabemos como responder a essa busca, o que significa ter uma vida abundante? Não queria e não quero entrar nos clichês, que vida abundante é andar com Jesus e etc. Pois até mesmo aqueles que professam este credo, acabam se afogando dentro de si mesmos, complicando cada vez mais a fé e a vida.

Geramos um Deus antagônico à vida e a simplicidade que ela nos oferece (lembrem que simplicidade não quer dizer fácil), pois com as amarras da lei, impomos o dogma e com isso em vez de livres, somos castrados, esse Deus não caminha com você, mas te empurra, como se conduzisse uma boiada e não um rebanho.

Isso contraria a lógica do Bom Pastor, até mesmo do que Paulo escreve em I Co 13, nesse preceito de Deus não há amor e nem misericórdia, palavra que aprendi numa mensagem, há apenas o duro peso do chicote ideológico. Não há a presença do Deus que se fez menino, todavia, do Deus que se faz destruição. Com isso, não há como se ter o sentimento de vida abundante e nem plena.

Ela também não tem uma única forma, ou jeito, ela é do jeito que procuramos a paz e a encontramos, mas há indícios, por exemplo, quando estamos mais desprendidos das coisas e nos ligamos à vida, na sua forma mais singela, vamos encontrando as saídas necessárias para este tipo de plenitude, isso me lembra o sermão da montanha sobre em buscar o reino de Deus e sua justiça, também lembra o estado de contentamento de Paulo, que sabia viver em todas as circunstâncias, por isso se sentia forte naquele que trazia fortalecimento.

Temos que lembrar que Deus é o Deus dos antagonismos da humanidade, semelhante à oração de São Francisco, onde houver ódio, o amor, onde houver guerras, a paz. Onde houver negação, plenitude.

Vida plena tem haver com um belo pôr-do-sol, uma caminhada, um papo aberto e franco e alguém dizendo...

“Este é meu filho amado em quem me comprazo...”

Paz e bem

Beijo da tia sara (lido no blog Meninas do Reino)